O objetivo da resenha é divulgar
objetos de consumo cultural - livros, filmes peças de teatro, etc. Por isso a
resenha é um texto de caráter efêmero, pois "envelhece" rapidamente,
muito mais que outros textos de natureza opinativa. No entanto, a resenha vem ganhando notoriedade no campo acadêmico e se tornando essencial na elaboração de trabalhos acadêmicos, textos científicos, análises de livros, artigos e periódicos da área. Portanto, saber resenhar é fundamental para a boa vida acadêmica do estudante.
Fazer uma resenha parece muito fácil à primeira vista, mas devemos tomar muito cuidado, pois dependendo do lugar, resenhistas podem fazer um livro mofar nas prateleiras ou transformar um filme em um verdadeiro fracasso.
As resenhas são ainda, além de um ótimo guia para os apreciadores da arte em geral, uma ferramenta essencial para acadêmicos que precisam selecionar quantidades enormes de conteúdo em um tempo relativamente pequeno.
Agora é questão de colocar a mão na massa e começar a produzir suas próprias resenhas!
Aprenda a como fazer resenhas:
Aprenda a como fazer resenhas:
Na resenha
acadêmica crítica, os oito passos a seguir formam um guia ideal
para uma produção completa:
Identifique
a obra: coloque
os dados bibliográficos essenciais do livro ou artigo que você vai resenhar;
Apresente a obra: situe o leitor descrevendo em poucas
linhas todo o conteúdo do texto a ser resenhado;
Descreva a estrutura:
fale sobre a divisão em capítulos, em seções, sobre o foco narrativo ou até, de
forma sutil, o número de páginas do texto completo;
Descreva o conteúdo:
Aqui sim, utilize de 3 a 5 parágrafos para resumir claramente o texto resenhado;
Analise de forma crítica:
Nessa parte, e apenas nessa parte, você vai dar sua opinião. Argumente
baseando-se em teorias de outros autores, fazendo comparações ou até mesmo
utilizando-se de explicações que foram dadas em aula. É difícil encontrarmos
resenhas que utilizam mais de 3 parágrafos para isso, porém não há um limite
estabelecido. Dê asas ao seu senso crítico.
Recomende a obra: Você
já leu, já resumiu e já deu sua opinião, agora é hora de analisar para quem o
texto realmente é útil (se for útil para alguém). Utilize elementos sociais ou
pedagógicos, baseie-se na idade, na escolaridade, na renda etc.
Identifique o autor:
Cuidado! Aqui você fala quem é o autor da obra que foi resenhada e não do autor
da resenha (no caso, você). Fale brevemente da vida e de algumas outras obras
do escritor ou pesquisador.
Assine e identifique-se:
Agora sim. No último parágrafo você escreve seu nome e fala algo como
“Acadêmico do Curso de Letras da Universidade de Caxias do Sul (UCS)”.
Na resenha acadêmica descritiva, os
passos são exatamente os mesmos, excluindo-se o passo de número 5. Como o
próprio nome já diz, a resenha descritiva apenas descreve, não expõe a opinião
o resenhista.
Finalmente,
na resenha temática,
você fala de vários textos que tenham um assunto (tema) em comum. Os passos são
um pouco mais simples:
Apresente
o tema: Diga ao
leitor qual é o assunto principal dos textos que serão tratados e o motivo por
você ter escolhido esse assunto;
Resuma os textos:
Utilize um parágrafo para cada texto, diga logo no início quem é o autor e
explique o que ele diz sobre aquele assunto;
Conclua: Você acabou de explicar cada um dos
textos, agora é sua vez de opinar e tentar chegar a uma conclusão sobre o tema
tratado;
Mostre as fontes:
Coloque as referências Bibliográficas de cada um dos textos que você usou;
Assine e identifique-se:
Coloque seu nome e uma breve descrição do tipo “Acadêmico do Curso de Letras da
Universidade de Caxias do Sul (UCS)”.
Retirado de lendo.org
Exemplos
de resenhas
Publicam-se a seguir três resenhas que podem ilustrar melhor as considerações feitas ao longo desta apresentação.
Atwood se perde em panfleto
feminista
Marilene
Felinto
Da Equipe de Articulistas
Margaret Atwood, 56, é uma escritora canadense
famosa por sua literatura de tom feminista. No Brasil, é mais conhecida pelo
romance "A mulher Comestível" (Ed. Globo). Já publicou 25 livros
entre poesia, prosa e não-ficção. "A Noiva Ladra" é seu oitavo
romance.
O livro começa com uma página inteira de
agradecimentos, procedimento normal em teses acadêmicas, mas não em romances.
Lembra também aqueles discursos que autores de cinema fazem depois de receber
o Oscar. A escritora agradece desde aos livros sobre guerra, que consultou
para construir o "pano de fundo" de seu texto, até a uma parente,
Lenore Atwood, de quem tomou emprestada a (original? significativa?)
expressão "meleca cerebral".
Feitos os agradecimentos e dadas as instruções,
começam as quase 500 páginas que poderiam, sem qualquer problema, ser
reduzidas a 150. Pouparia precioso tempo ao leitor bocejante.
É a história de três amigas, Tony, Roz e
Charis, cinqüentonas que vivem infernizadas pela presença (em
"flashback") de outra amiga, Zenia, a noiva ladra, inescrupulosa
"femme fatale" que vive roubando os homens das outras.
Vilã meio inverossímel - ao contrário das
demais personagens, construídas com certa solidez -, a antogonista Zenia não
se sustenta, sua maldade não convence, sua história não emociona. A narrativa
desmorona, portanto, a partir desse defeito central. Zenia funcionaria como
superego das outras, imagem do que elas gostariam de ser, mas não
conseguiram, reflexo de seus questionamentos internos - eis a leitura mais
profunda que se pode fazer desse romance nada surpreendente e muito óbvio no
seu propósito.
Segundo a própria Atwood, o propósito era
construir, com Zenia, uma personagem mulher "fora-da-lei", porque
"há poucas personagens mulheres fora-da-lei". As intervenções do
discurso feminista são claras, panfletárias, disfarçadas de ironia e humor
capengas. A personagem Tony, por exemplo, tem nome de homem (é apelido para
Antônia) e é professora de história, especialista em guerras e obcecada por elas,
assunto de homens: "Historiadores homens acham que ela está invadindo o
território deles, e deveria deixar as lanças, flechas, catapultas, fuzis,
aviões e bombas em paz".
Outras alusões feministas parecem colocadas ali
para provocar riso, mas soam apenas ingênuas: "Há só uma coisa que eu
gostaria que você lembrasse. Sabe essa química que afeta as mulheres quando
estão com TPM? Bem, os homens têm essa química o tempo todo". Ou então,
a mensagem rabiscada na parede do banheiro: "Herstory Not History",
trocadilho que indicaria o machismo explícito na palavra
"História", porque em inglês a palavra pode ser desmembrada em duas
outras, "his" (dele) e story (estória). A sugestão contida no
trocadilho é a de que se altere o "his" para "her"
(dela).
As histórias individuais de cada personagem são
o costumeiro amontoado de fatos cotidianos, almoços, jantares, trabalho,
casamento e muita "reflexão feminina" sobre a infância, o amor,
etc. Tudo isso narrado da forma mais achatada possível, sem maiores sobressaltos,
a não ser talvez na descrição do interesse da personagem Tony pelas guerras.
Mesmo aí, prevalecem as artificiais inserções
de fundo histórico, sem pé nem cabeça, no meio do texto ficcional, efeito da
pesquisa que a escritora - em tom cerimonioso na página de agradecimentos -
se orgulha de ter realizado.
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Estadista
de mitra
Na melhor bibliografia de João Paulo II até agora, o jornalista Tad Szulc dá ênfase à atuação política do papa
Ivan
Ângelo
Como será visto na História esse contraditório
papa João Paulo II, o único não-italiano nos últimos 456 anos? Um conservador
ou um progressista? Bom ou mau pastor do imenso rebanho católico? Sobre um
ponto não há dúvida: é um hábil articulador da política internacional. Não
resolveu as questões pastorais mais angustiantes da Igreja Católica em nosso
tempo - a perda de fiéis, a progressiva falta de sacerdotes, a forma de pôr
em prática a opção da igreja pelos pobres -; tornou mais dramáticos os conflitos
teológicos com os padres e os fiéis por suas posições inflexíveis sobre o
sacerdócio da mulher, o planejamento familiar, o aborto, o sexo seguro, a
doutrina social, especialmente a Teologia da Libertação, mas por outro lado,
foi uma das figuras-chave na desarticulação do socialismo no Leste Europeu,
nos anos 80, a partir da sua atuação na crise da Polônia. É uma voz poderosa
contra o racismo, a intolerância, o consumismo e todas as formas
autodestrutivas da cultura moderna. Isso fará dele um grande papa?
O livro do jornalista polonês Tad Szulc João
Paulo II - Bibliografia (tradução de Antonio Nogueira Machado,
Jamari França e Silvia de Souza Costa; Francisco Alves; 472 páginas; 34
reais) toca em todos esses aspectos com profissionalismo e competência. O
autor, um ex-correspondente internacional e redator do The New York Times,
viajou com o papa, comeu com ele no Vaticano, entrevistou mais de uma centena
de pessoas, levou dois anos para escrever esse catatau em uma máquina manual
portátil, datilografando com dois dedos. O livro, bastante atual, acompanha a
carreira (não propriamente a vida) do personagem até o fim de janeiro de
1995, ano em que foi publicado. É um livro de correspondente internacional,
com o viés da política internacional. Szulc não é literariamente refinado
como seus colegas Gay Talese ou Tom Wolfe, usa com freqüência aqueles ganchos
e frases de efeito que adornam o estilo jornalístico, porém persegue seu
objetivo como um míssil e atinge o alvo.
Em meio à política, pode-se vislumbrar o homem
Karol Wojtyla, teimoso, autoritário, absolutista de discurso democrático,
alguém que acha que tem uma missão e não quer dividi-la, que é contra o
"moderno" na moral, que prefere perder a transigir, mas é gentil,
caloroso, fraterno, alegre, franco ... Szulc, entretanto, só faz o esboço,
não pinta o retrato. Temos, então, de aceitar a sua opinião: "É difícil
não gostar dele".
Opus Dei - O livro começa
descrevendo a personalidade de João Paulo II, faz um bom resumo da História
da Polônia e sua opção pelo Ocidente e pela Igreja Católica Romana (em vez da
Ortodoxa Grega, que dominava os vizinhos do Leste), fala da relação mística
de Wojtyla com o sofrimento, descreve sus brilhante carreira intelectual e
religiosa, volta à sua infância, aos seus tempos de goleiro no time do
ginásio ""um mau goleiro", dirá mais tarde um amigo), localiza
aí sua simpatia pelos judeus, conta que ele decidiu ser padre em meio ao
sofrimento pela morte do pai, destaca a complacência de Pio XII com o
nazismo, a ajuda à Opus Dei (a quem depois João Paulo II daria todo o apoio),
demora-se demais nos meandros da política do bispo e cardeal Wojtyla, cresce
jornalisticamente no capítulo sobre a eleição desse primeiro papa polonês,
mostra como ele reorganizou a Igreja, discute suas posições conservadoras
sobre a Teologia da Libertação e as comunidades eclesiais de base, CEBs, na
América latina, descreve sua decisiva atuação na política do Leste Europeu, a
derrocada do comunismo, e termina com sus luta atual contra o demônio
pós-comunista. Agora o demônio, o perigo mortal para a humanidade, é o
capitalismo selvagem e o "imperialismo contraceptivo" dos EUA e da
ONU.
Szulc, o escritor-míssil, não se desvia do seu
alvo nem quando vê um assunto saboroso como a Cúria do Vaticano, que diz
estar cheia de puxa-sacos e fofoqueiros com computadores, nos quais
contabilizam trocas de favores, agrados, faltas e rumores. O sutil jornalista
Gay Talese não perderia um prato desses.
Entretanto, Szulc está sempre atento às ações
políticas do papa. Nota que João Paulo II elevou a Opus Dei à prelatura
pessoal enquanto expurgou a Companhia de Jesus por seu apoio à Teologia da
Libertação; ajudou a Opus Dei a se estabelecer na Polônia, beatificou
rapidamente seu criador, monsenhor Escrivã. Como um militar brasileiro dos
anos 60, cassou o direito de ensinar dos padres Küng, Pohier e Curran,
silenciou os teólogos Schillebeeckx (belga), Boff (brasileiro), Häring
(alemão) e Gutiérrez (peruano), reduziu o espaço pastoral de dom Arns
(brasileiro). Em contrapartida, apoiou decididamente o sindicato clandestino
polonês, a Solidariedade. Fez dobradinha com o general dirigente polonês
Jaruzelski contra Brejnev, abrindo o primeiro país socialista, que abriu o
resto. O próprio Gorbachev reconhece: "Tudo o que aconteceu no Leste
Europeu nesses últimos anos teria sido impossível sem a presença deste
papa".
Talvez seja assim também com relação ao que
acontece com as religiões cristãs no nosso continente. Tad Szulc, com
cautela, alerta para a penetração, na América Latina, dos evangélicos e
pentecostais, que o próprio Vaticano chama de "seitas
arrebatadoras". A participação comunitária e o autogoverno religioso que
existia nas CEBs motivavam mais a população. Talvez seja. Acrescentando-se a
isso o lado litúrgico dos evangélicos que satisfaz o desejo dos fiéis de
serem atores no drama místico, não tanto espectadores, tem-se uma tese.
O perfil desenhado por Szulc é o de um político
profundamente religioso. Um homem que reza sete horas por dia, com os olhos
firmemente fechados, devoto de Nossa Senhora de Fátima e do mártir polonês
São Estanislau e que acredita no martírio e na dor pessoais para alcançar a
graça.
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Um gramático contra a gramática
Gilberto Scarton
Língua e Liberdade: por uma nova concepção
da língua materna e seu ensino (L&PM, 1995, 112 páginas) do
gramático Celso Pedro Luft traz um conjunto de idéias que subverte a ordem
estabelecida no ensino da língua materna, por combater, veemente, o ensino da
gramática em sala de aula.
Nos 6 pequenos capítulos que integram a obra, o
gramático bate, intencionalmente, sempre na mesma tecla - uma variação sobre
o mesmo tema: a maneira tradicional e errada de ensinar a língua materna, as
noções falsas de língua e gramática, a obsessão gramaticalista, inutilidade
do ensino da teoria gramatical, a visão distorcida de que se ensinar a língua
é se ensinar a escrever certo, o esquecimento a que se relega a prática
lingüística, a postura prescritiva, purista e alienada - tão comum nas
"aulas de português".
O velho pesquisador apaixonado pelos problemas
da língua, teórico de espírito lúcido e de larga formação lingüística e
professor de longa experiência leva o leitor a discernir com rigor gramática
e comunicação: gramática natural e gramática artificial; gramática
tradicional e lingüística; o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber
dos falantes e o saber dos gramáticos, dos lingüistas, dos professores; o
ensino útil, do ensino inútil; o essencial, do irrelevante.
Essa fundamentação lingüística de que lança mão
- traduzida de forma simples com fim de difundir assunto tão especializado
para o público em geral - sustenta a tese do Mestre, e o leitor facilmente se
convence de que aprender uma língua não é tão complicado como faz ver o
ensino gramaticalista tradicional. É, antes de tudo, um fato natural,
imanente ao ser humano; um processos espontâneo, automático, natural,
inevitável, como crescer. Consciente desse poder intrínseco, dessa propensão
inata pela linguagem, liberto de preconceitos e do artificialismo do ensino
definitório, nomenclaturista e alienante, o aluno poderá ter a palavra, para
desenvolver seu espírito crítico e para falar por si.
Embora Língua e Liberdade do
professor Celso Pedro Luft não seja tão original quanto pareça ser para o
grande público (pois as mesmas concepções aparecem em muitos teóricos ao
longo da história), tem o mérito de reunir, numa mesma obra, convincente
fundamentação que lhe sustenta a tese e atenua o choque que os leitores -
vítimas do ensino tradicional - e os professores de português - teóricos,
gramatiqueiros, puristas - têm ao se depararem com uma obra de um autor de
gramáticas que escreve contra a gramática na sala de aula.
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Fonte: http://www.pucrs.br